Ao completar dezessete anos, mas já acostumado com os
holofotes das inaugurações de seus trabalhos em vários espaços, Lucio Piantino
nos brinda com mais uma mostra de pinturas de sua recente produção dos últimos
meses.
Pode parecer óbvio se analisarmos sua obra como o resultado
de uma genética artística por ele pertencer a uma família de talentosos
artistas. Embora as conexões hereditárias possam determinar estímulos ou
influências ao processo criativo, no caso do Lucio a presença da arte
impregnada em sua vida soa como algo independente e particular.
O ritual que envolve a produção de uma exposição
funciona como um exercício de postura do artista em relação ao seu trabalho com
a participação do público. Neste momento o artista passa a ser o observador de
sua própria obra. Lucio lida com tranquilidade com isso, onde se vê como
protagonista de si mesmo – ele se diverte quando seus quadros ultrapassam os
espaços do seu ambiente de trabalho e ganham paredes de galerias.
Esta mostra se assemelha às outras que ele já inaugurou
pela intimidade que tem com as cores, o gesto, a energia e a atitude direta e
definitiva quando se coloca diante de uma tela em branco. As pinceladas
ou, às vezes, o dripping – método de gotejamento adotado por Jackson
Pollock nos anos 1950 – parecem fluir como o movimento eletrizante do
Hip-Hop. E é nesse ritmo que Lucio interage consigo mesmo se reconhecendo
como artista que é.
“Quero expressar meus sentimentos mais do que
ilustrá-los... quando estou pintando não tenho consciência do que faço”. Esta
expressão de Pollock poderia ser aplicada à maneira intuitiva e prazerosa do
Lucio produzir suas telas, principalmente quando se lança aos grandes formatos.
É como se a força das tintas e a energia produzida pela explosão “aleatória”
das cores o conduzissem a uma constelação de infinitas possibilidades da
criação.
Mas não é apenas com o efeito da vibração dos matizes que
ele elabora suas pinturas. A síntese também faz parte do seu repertório
pictórico, traduzida pela economia de cores. Numa outra vertente, subitamente,
surgem sofisticadas composições planas monocromáticas elaboradas, às
vezes, com notas minimalistas de traços precisos, que nos reportam ao
mestre concretista Amilcar de Castro. Esta exposição nos oferece a chance de
perceber particularidades que envolvem o seu universo criativo e a importância
da permanência desse processo ao longo de sua trajetória.
A clareza da existência concreta da obra do Lucio apenas
nos confirma que a arte segue um rito natural. O estímulo, é claro, é o agente
que produz o alimento que o sustenta e o faz sentir-se mais participativo e
interativo com o mundo em sua volta. Esta exposição abre espaços para nos
envolvermos e nos encontrarmos, mais uma vez, com a arte corajosa e instigante do
Lucio, que mostra mais uma frase de sua história, escrita com as cores do
coração.
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