segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

DE ARTEIRO A ARTISTA: A SAGA DE UM MENINO COM SÍNDROME DE DOWN por Glenio Lima (curador)


Ao completar dezessete anos, mas já acostumado com os holofotes das inaugurações de seus trabalhos em vários espaços, Lucio Piantino nos brinda com mais uma mostra de pinturas de sua recente produção dos últimos meses.
Pode parecer óbvio se analisarmos sua obra como o resultado de uma genética artística por ele pertencer a uma família de talentosos artistas. Embora as conexões hereditárias possam determinar estímulos ou influências ao processo criativo, no caso do Lucio a presença da arte impregnada em sua vida soa como algo independente e particular.
O ritual que envolve a produção de uma exposição  funciona como um exercício de postura do artista em relação ao seu trabalho com a participação do público. Neste momento o artista passa a ser o observador de sua própria obra. Lucio lida com tranquilidade com isso, onde se vê como protagonista de si mesmo – ele se diverte quando seus quadros ultrapassam os espaços do seu ambiente de trabalho e ganham paredes de galerias.
Esta mostra se assemelha às outras que ele já inaugurou pela intimidade que tem com as cores, o gesto, a energia e a atitude direta e definitiva quando se coloca diante de uma tela em branco. As pinceladas ou, às vezes, o dripping – método de gotejamento adotado por Jackson Pollock nos anos 1950 – parecem fluir como o movimento eletrizante do Hip-Hop.  E é nesse ritmo que Lucio interage consigo mesmo se reconhecendo como artista que é.
“Quero expressar meus sentimentos mais do que ilustrá-los... quando estou pintando não tenho consciência do que faço”. Esta expressão de Pollock poderia ser aplicada à maneira intuitiva e prazerosa do Lucio produzir suas telas, principalmente quando se lança aos grandes formatos. É como se a força das tintas e a energia produzida pela explosão “aleatória” das cores o conduzissem a uma constelação de infinitas possibilidades da criação.
Mas não é apenas com o efeito da vibração dos matizes que ele elabora suas pinturas. A síntese também faz parte do seu repertório pictórico, traduzida pela economia de cores. Numa outra vertente, subitamente, surgem sofisticadas composições planas  monocromáticas elaboradas, às vezes, com notas minimalistas de traços precisos, que nos reportam ao mestre concretista Amilcar de Castro. Esta exposição nos oferece a chance de perceber particularidades que envolvem o seu universo criativo e a importância da permanência desse processo ao longo de sua trajetória.
A clareza da existência concreta da obra do Lucio apenas nos confirma que a arte segue um rito natural. O estímulo, é claro, é o agente que produz o alimento que o sustenta e o faz sentir-se mais participativo e interativo com o mundo em sua volta. Esta exposição abre espaços para nos envolvermos e nos encontrarmos, mais uma vez, com a arte corajosa e instigante do Lucio, que mostra mais uma frase de sua história, escrita com as cores do coração.

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